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“Matéria-prima não é lixo” – Joana Campos Silva

Na sessão do City Café conduzida pela consultora de marcas de moda Joana Campos Silva a palavra de ordem foi: sustentabilidade (na moda). Mais do que divagar à volta de um conceito teórico ou de uma idealização, oradora e audiência refletiram e interagiram para, no final, sairmos do Porto Innovation Hub com uma noção clara do que está ao nosso alcance, por meio de gestos mais ou menos pequenos, para assumirmos uma postura consciente e responsável face ao vestuário e à moda. Afinal, é nesta esfera que se regista a maior taxa de consumo e, simultaneamente, a menor taxa de circularidade.

É incontornável o facto de vivermos numa era em que as marcas e as tendências de moda nos “assaltam” em diversos momentos do dia, seja quando estamos na rua, no trabalho ou até mesmo dentro de casa.

Esta sobre-exposição é acompanhada por um mercado global em que os preços do vestuário desceram consideravelmente, privilegiando-se quantidade face à qualidade. Produção e consumo tornaram-se vertiginosamente rápidos. Mas o que acontece com a peça de roupa que descartamos assim que a moda passa ou quando a sua fraca qualidade vem ao de cima?

 

A pergunta surge em jeito de provocação porque, como refere Joana Campos Silva, em Portugal, anualmente há 200 mil toneladas de roupa que vão para o lixo. E a explicação está à vista – “compramos barato, não desenvolvemos qualquer conexão emocional e, por isso, descartamos as peças mais cedo”. Paralelamente, e não obstante o vestuário ser algo muito presente no nosso quotidiano, há um profundo desconhecimento sobre o processo de produção (e seu impacto ambiental e social), bem como sobre os processos de reutilização e de reciclagem e suas contingências. Quando questionada, a audiência indicou os contentores de “doação de vestuário e calçado” como uma boa solução para a roupa que queremos descartar. Mas rapidamente surgiu a advertência de que a quantidade de roupa doada é tanta que não é possível escoar através do mercado em segunda mão nacional (gerando o lucro que posteriormente é doado para missões humanitárias) e, consequentemente, o excedente é enviado para países subdesenvolvidos (África, Sul da Ásia, etc.) onde é vendido por valores tão baixos que acabam por destruir a indústria têxtil local.

 

No que se refere à reciclagem das matérias-primas, os participantes no City Café foram desafiados a inspecionarem os elementos presentes nas suas roupas, naquele dia. Em poucos minutos, perceberam que há materiais mais amigos do ambiente do que outros (por exemplo, o poliéster vai libertando microfibras a cada lavagem, as quais entram no circuito das águas e acabam por ser ingeridas pelos peixes e, eventualmente, pelos humanos também). Deste exercício decorreu um importante alerta: “não devemos cortar as etiquetas da roupa pois são essenciais para, no final do ciclo de vida da peça, sabermos para onde encaminhar cada tipo de material e permitirmos a sua reciclagem”. Contudo, ainda antes de pensar em descartar uma peça de roupa, a convidada partilhou uma série de questões que vale a pena colocarmos a nós mesmos da próxima vez que pensarmos em separarmo-nos de um par de calças ou camisola:

– posso recorrer a um serviço de costura para reparar ou transformar?

– é possível trocar esta peça por outra de um familiar ou amigo?

– e se tentasse vender online ou numa loja de 2ª mão?

 

Para o futuro, ficou a dica de resistir à tentação do conceito fast fashion e fazer escolhas e compras conscientes, privilegiando materiais de qualidade, produzidos por marcas cujos valores estão alinhados com uma lógica de circularidade e de longevidade. Cada um dos nossos gestos poderá parecer demasiado pequeno, mas será na soma de todas as pequenas alterações que vamos caminhar para a mudança de paradigma.

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