O Futuro da Cultura na era digital com João Vasconcelos
O papel da cultura e da inovação tecnológica no desenvolvimento das sociedades contemporâneas foi discutido na quarta sessão do City Café, tendo em vista o uso das tecnologias na produção de novas formas de arte, cultura e expressão urbana.
Ao introduzir o tema, o convidado João Vasconcelos referiu que o projeto que fundou há cerca de 15 anos – o Canal 180 – constituiu uma resposta inovadora à crise do modelo televisivo tradicional. Com uma abordagem digital e colaborativa, este canal posicionou-se como uma plataforma que promove a criatividade e a cultura, privilegiando a interligação entre artes visuais, design, música e novos media.
«O que nos moveu a lançar o Canal 180 foi a convicção de que a tecnologia podia ser usada como uma ferramenta de democratização e experimentação cultural», justificou, adiantando que «a revolução digital não foi só tecnológica, mas sim uma mudança na forma como interagimos, produzimos e distribuímos cultura».
Ao longo da sessão, foram destacados os seguintes temas centrais:
- A internet como motor de mudança: a internet passou de ferramenta de consulta para um espaço de participação ativa e colaborativa. Esta transição permitiu que surgissem novos criadores e formatos, impulsionando o acesso à produção cultural de forma descentralizada.
- Porto – da adversidade à renovação cultural: a consolidação de vários projetos (como o caso do Canal 180) decorreu num período de fragilidade económica. No entanto, este contexto revelou-se fértil para o surgimento de novas dinâmicas culturais, como o Primavera Sound (festival de música anual realizado na cidade do Porto), que desempenhou um papel central na revitalização da oferta artística e cultural, contribuindo para a dinamização da economia local e para o reposicionamento da cidade no panorama cultural europeu.
- A Tecnologia como instrumento criativo: a integração da tecnologia no processo artístico tem permitido ampliar os limites da criação e da experimentação, considerando o uso de ferramentas como drones, inteligência artificial, algoritmos e realidade virtual, que têm sido utilizadas para explorar novas linguagens visuais e sensoriais. No entanto, importa ressalvar que estes avanços suscitam também algumas questões éticas e sociais, nomeadamente no que diz respeito à privacidade, à sustentabilidade e ao impacto ambiental.
- O desafio da aceleração: a velocidade da inovação tecnológica levanta desafios significativos à capacidade de resposta das estruturas sociais, legais e educativas. A crescente centralização das plataformas digitais, a precarização dos profissionais da cultura e a exposição precoce das crianças às tecnologias digitais são questões que exigem reflexão e regulação adequadas.
- Cultura digital e vivência urbana: apesar da digitalização crescente, verifica-se uma revalorização do espaço público como lugar de encontro, fruição cultural e construção de comunidade. Esta tendência manifesta-se através de uma procura crescente por eventos presenciais — concertos, exposições, debates — enquanto reação à saturação do consumo digital.
- Curadoria e responsabilidade cultural: a escolha informada de conteúdos e a mediação crítica tornam-se essenciais para garantir diversidade, pluralismo e qualidade na oferta cultural. A confiança em programadores, curadores e instituições reforça a relevância da mediação humana num contexto de crescente automatização.
Na parte final da sessão, João Vasconcelos abriu a discussão lançando a seguinte questão à plateia: «qual a melhor invenção: a internet ou o fim de semana?
Esta retórica levou a plateia a refletir sobre como algumas inovações sociais, como a criação do conceito de fim de semana, podem ter um impacto tão grande ou até maior do que inovações tecnológicas, como a internet — apesar de estas serem, em geral, mais valorizadas. Além disso, esta reflexão abriu espaço para discutir a importância de manter tempos e espaços dedicados à criatividade, ao pensamento e ao bem-estar, num mundo cada vez mais acelerado.
«Perante todos estes desafios, é imperativo promover uma cultura que valorize tanto a inovação como a reflexão crítica. A tecnologia deve estar ao serviço do desenvolvimento humano e não o inverso», rematou o orador.
A última sessão deste ciclo do City Café está agendada para o dia 20 de maio, com Guilherme Mota, sobre o tema «Explorar a IA para Enfrentar Desafios Urbanos», no Porto Innovation Hub, pelas 13h30.




















