Como a Inteligência Artificial pode apoiar a gestão urbana
City Café promove debate sobre o papel da IA no setor público e os seus desafios éticos, operacionais e institucionais.
No passado dia 20 de maio, o Porto Innovation Hub recebeu uma nova sessão do ciclo Desafios Num Porto Mais Digital, com foco na utilização da Inteligência Artificial (IA) para enfrentar os desafios crescentes das cidades. A atividade convidou profissionais do setor público e privado para uma conversa aberta, com o objetivo de mostrar como a cidade do Porto tem unido inovação e tecnologia para responder aos desafios do futuro, aprofundando temas como a inteligência artificial, a participação cívica e a transformação cultural e digital.
O orador convidado foi Guilherme Mota, engenheiro de software e entusiasta de IA, que trouxe exemplos práticos, ferramentas acessíveis e uma abordagem pedagógica sobre como esta tecnologia pode ser integrada na rotina de serviços urbanos.
“Durante muito tempo pensou-se que a IA era magia. Mas a IA é matemática. É estatística e exige responsabilidade.” — afirmou o convidado.
IA aplicada à cidade: casos concretos e modelos úteis
A sessão começou por clarificar a diferença entre IA tradicional — baseada em regras fixas — e IA generativa, capaz de criar novos conteúdos com base em grandes volumes de dados. Guilherme Mota resumiu:
“A IA tradicional era como um técnico de regras. A generativa é um estagiário super empenhado — responde a tudo, mesmo quando não sabe bem.”
Entre os exemplos práticos, discutiram-se usos da IA na:
- Geração automática de respostas a pedidos dirigidos à Câmara Municipal
- Redação de relatórios administrativos
- Apoio à interação com cidadãos
- Otimização de tarefas de backoffice
Foram ainda referenciadas ferramentas como ChatGPT, Claude, Perplexity, Gamma.app ou Eleven Labs, todas com potencial para uso controlado e estratégico em ambiente municipal.
Desafios éticos e importância da validação humana
A par das oportunidades, o orador alertou para os principais riscos associados à utilização da Inteligência Artificial em contextos urbanos e administrativos: alucinações (respostas erradas apresentadas com aparente confiança), a pegada ecológica decorrente do uso intensivo de servidores e centros de dados, a reprodução de preconceitos sociais presentes nos dados de treino, e questões de privacidade e segurança da informação.
“A IA só é perigosa se não soubermos o que estamos a fazer com ela.Se não revemos o que ela gera, arriscamo-nos a responder a um munícipe com um erro… e a acreditar que está certo.” — argumentou o especialista.
Experimentação responsável: testar, validar e adaptar
No encerramento da sessão, o orador partilhou algumas orientações essenciais para quem pretende adotar ferramentas de Inteligência Artificial no contexto municipal de forma segura e eficaz:
- Testar ferramentas com cautela e objetivos claros: Antes de integrar novas tecnologias no dia a dia, é importante compreendê-las bem, explorar as suas funcionalidades e perceber onde podem realmente acrescentar valor.
- Guardar bons modelos de uso: À medida que se testam ferramentas, é útil criar uma biblioteca de exemplos bem-sucedidos — prompts eficazes, casos práticos, abordagens funcionais — que sirvam de base para uso futuro.
- Reforçar a literacia digital das equipas técnicas e administrativas: A introdução de IA nas rotinas de trabalho deve ser acompanhada por formação e capacitação, garantindo que todos compreendem os fundamentos, limites e implicações da tecnologia.
- Pensar a IA como apoio, não como substituto da decisão pública: A inteligência artificial deve ser encarada como uma ferramenta complementar — útil para aumentar a eficiência e qualidade do serviço público, mas sempre subordinada ao julgamento humano e à responsabilidade institucional.
“A IA não é um destino. É uma ferramenta. Cabe-nos a nós decidir como — e para quê — a usamos.”, rematou o orador.
Com esta sessão — a quinta e última do ciclo Desafios num Porto Mais Digital — o Porto Innovation Hub conclui uma atividade que promoveu o debate informado sobre o uso de tecnologias emergentes no contexto urbano. Ao longo das sessões, mais de 130 participantes dos setores público e privado contribuíram para uma reflexão transversal sobre inovação digital, inteligência artificial, participação cívica e transformação cultural. Esta jornada reforça o papel do PIH como espaço de diálogo estratégico, capacitação interna e compromisso com uma cidade mais inteligente e responsável.



















